Biodigestores
Biodigestores
Desde os primórdios da humanidade, o Homem sempre extraiu da natureza aquilo que necessitava para sobreviver. Porém, houve com o surgimento das civilizações uma modificação em seu estilo de vida, que passou do nomadismo para o sedentarismo. As necessidades individuais e coletivas estimularam o desenvolvimento tecnológico que facilitasse a obtenção de suprimentos. A Revolução Industrial, o modelo de produção em massa e a multiplicação dos seres humanos passaram, então, a causar impactos mais significativos no ambiente. Não houve aumento apenas na produção de bens de consumo e extração de recursos naturais, mas também geração de resíduos/lixo e poluição de formas diversas.
O descarte de materiais degrada o ambiente por meio de alterações ambientais físicas, químicas e biológicas, afeta a paisagem, compromete a segurança, saúde e bem estar da população, além de ser dispendioso, já que subtrai energia e dinheiro do Estado para dar destinação aos mesmos. O século XXI traz à tona a questão da crise mundial de lixo, uma vez que a Organização das Nações Unidas prevê aumento da população para quase 11 bilhões de pessoas até o ano de 2050.
A criação de animais existe desde a época em que o Homem adotou o modelo de vida sedentário. Hoje, a pecuária é uma das cadeias mais produtivas do agronegócio. Nesse contexto, a suinocultura tem papel de destaque dentro e fora do país. A criação de porcos evoluiu em técnica, insumos, volume, participação na economia e demanda. Porém, algo que vem evoluindo a passos lentos é a aplicação de formas mais adequadas de descarte dos dejetos animais.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (2014), ABPA, só em 2013 houve produção suína industrial de 37.369.000 cabeças. Para subsistência, são cerca de 3,5 mil cabeças a mais. Um suíno adulto normal pesa cerca de 90kg e consome, aproximadamente, 5,5L de água por dia. O mesmo animal produz 0,6L de dejetos líquidos a cada 1L de água ingerida. Isso significa, anualmente, 1,2 mil litros de resíduos líquidos gerados por cabeça, entre urina, chorume, fezes líquidas, águas de bebedouro e de lavagem.
Porém, os dejetos suínos são ainda constituídos pela parte sólida – fezes e resíduos de alimentos, e pela fase gasosa – gás metano e gás carbônico. Os constituintes sólidos são misturados aos líquidos no momento do descarte. Já os gasosos são liberados no ambiente sem controle, pois são provenientes da flatulência e estrume dos animais, e também das máquinas que auxiliam na criação dos mesmos.
O lançamento direto nos cursos d’água foi a forma de disposição final destes resíduos mais utilizada até a década de 70. Porém, tal ação é hoje proibida por lei em vários países do mundo, inclusive no Brasil (Lei 9.605/98), especialmente em regiões onde há dependência direta desses cursos d’água. Uma nova postura tornou-se necessária frente às consequências ambientalmente impactantes causadas pela suinocultura.
Atualmente, o método de descarte mais utilizado é o reaproveitamento do material orgânico como fertilizante. Sua fama se deve à diminuição de etapas no tratamento dos rejeitos e à redução de custo de produção na agricultura, já que os adubos químicos são substituídos. Entretanto, a utilização de material orgânico como adubo sem o tratamento adequado ainda causa muitos problemas, como a introdução de agentes patogênicos e elementos prejudiciais ao solo, produção de odor desagradável e outros problemas.
Existe, porém, uma terceira opção de disposição final dos resíduos suínos: a transformação deles em subprodutos ambientalmente amigáveis. Essa alternativa envolve uma série de processos biológicos, físicos e químicos, que reduzem a toxicidade dos dejetos, transformando-os em adubo orgânico, biogás, possível crédito de carbono e até água própria para reuso. Essa transformação é a biodigestão, que é promovida em um biodigestor.
De forma simplificada, o biodigestor atua como uma câmara fechada, onde ocorre fermentação de biomassa por bactérias, principalmente, na ausência de oxigênio.
No contexto histórico, foi durante a 2ª Guerra Mundial que ocorreu o estímulo aos estudos em biodigestão para produção de biogás a fim de substituir os derivados do petróleo e descentralizar a matriz energética dos países. Porém, ao fim do conflito, apenas Índia, China e África do Sul mantiveram-se no desenvolvimento dessa área. Por isso, China e Índia são os países que possuem maior desenvolvimento na área, sendo bastante influentes.
No Brasil, a técnica foi inserida apenas em 1979, na Granja do Torto em Brasília, onde foi instalado o primeiro biodigestor brasileiro. O interesse surgiu por causa da crise dos preços do petróleo, que ocorria em todo o mundo. A situação energética crítica fez com que o governo federal adotasse medidas para a redução da dependência do petróleo, através da biodigestão e biocombustíveis.
A aplicação de biodigestores a cada país ou região é sensível às condições ambientais, sociais e econômicas locais. Consequentemente, a pesquisa e desenvolvimento de biodigestores realizados em uma área, podem não ser aplicáveis a este equipamento em outras regiões. Por realizar um processo bioquímico, existe uma gama de variáveis que influenciam na eficiência de atividade da biodigestão, como pH, temperatura, composição do substrato, entre outros.
Nacionalmente, os biodigestores têm sido implantados para atingir três objetivos: tratar efluentes, explorar o potencial energético do biogás e possibilitar o aumento da fertilidade do solo.
Adaptado de: PEREIRA, Lisiée M. G. “Eficiência do uso de biodigestores no manejo e tratamento de resíduos da suinocultura”. Monografia, Centro Universitário Newton Paiva, 2015.